Sunday, July 01, 2007

O Corvo (The Raven)

O Corvo é um dos poemas mais lindos já feito pelo engenho humano. Foi composto por Edgar Allan Poe (Boston, 19 de Janeiro de 1809 — Baltimore, 7 de Outubro de 1849) em 1845 e conta a história do amor de um homem que perdeu sua amada para a morte, e por isso ele começa a ler "doutrinas de outro tempo" com o intuito de trazê-la de volta a vida. Porém, recebe uma visita do anjo mensageiro na forma de corvo para fazer com que as esperanças se acabem e ele ver que vida continua... uma bela obra, que em nossa língua se perde um pouco dos significados, mas a beleza se mantém... Um homem jamais vencerá a morte, porém o verdadeiro amor vence!




"Nunca Mais"




"fatalidade"





O CORVO

Foi uma vez: eu refletia, à meia-noite erma e sombria,a ler doutrinas de outro tempo em curiosíssimos manuais,e, exausto, quase adormecido, ouvi de súbito um ruído,tal qual se houvesse alguém batido à minha porta, devagar."É alguém - fiquei a murmurar - que bate à porta, devagar; sim, é só isso e nada mais."

"exausto, quase adormecido, ouvi de súbito um ruído"

Ah! Claramente eu o relembro! Era no gélido dezembroe o fogo agônico animava o chão de sombras fantasmais.Ansiando ver a noite finda, em vão, a ler, buscava aindaalgum remédio à amarga, infinda, atroz saudade de Lenora- essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora e nome aqui já não tem mais.

"o fogo agônico animava o chão de sombras fantasmais"
A seda rubra da cortina arfava em lúgubre surdina,arrepiando-me e evocando ignotos medos sepulcrais.De susto, em pávida arritmia, o coração veloz batiae a sossegá-lo eu repetia: "É um visitante e pede abrigo.Chegando tarde, algum amigo está a beber e pede abrigo. É apenas isso e nada mais."

Ergui-me após e, calmo enfim, sem hesitar, falei assim: "Perdoai, senhora, ou meu senhor, se há muito aí fora esperais;mas é que estava adormecido e foi tão débil o batido,que eu mal podia ter ouvido alguém chamar à minha porta,assim de leve, em hora morta." Escancarei então a porta: - escuridão, e nada mais.

"Ergui-me após e, calmo enfim, sem hesitar"

"Escancarei então a porta: - escuridão, e nada mais."

"Lenora na sepultura"

"mais bela do que a aurora"

Sondei a noite erma e tranqüila, olhei-a fundo, a perquiri-la,sonhando sonhos que ninguém, ninguém ousou sonhar iguais.Estarrecido de ânsia e medo, ante o negror imoto e quedo,só um nome ouvi (quase em segredo eu o dizia), e foi: "Lenora!"E o eco, em voz evocadora, o repetiu também: "Lenora!" Depois, silêncio e nada mais.

Com a alma em febre, eu novamente entrei no quarto e, de repente,mais forte, o ruído recomeça e repercute nos vitrais."É na janela" - penso então. - "Por que agitar-me de aflição?Conserva a calma, coração! É na janela, onde, agourento,o vento sopra. É só do vento esse rumor surdo e agourento. É o vento só e nada mais."


"É o vento só e nada mais."

Abro a janela e eis que, em tumulto, a esvoaçar, penetra um vulto- é um Corvo hierático e soberbo, egresso de eras ancestrais.Como um fidalgo passa, augusto, e, sem notar sequer meu susto, adeja e pousa sobre o busto - uma escultura de Minerva,bem sobre a porta; e se conserva ali, no busto de Minerva, empoleirado e nada mais.

"Abro a janela "

"a esvoaçar, penetra um vulto"



"uma escultura de Minerva"
Ao ver da ave austera e escura a soleníssima figura,desperta em mim um leve riso, a distrair-me de meus ais."Sem crista embora, ó Corvo antigo e singular" - então lhe digo -"não tens pavor. Fala comigo, alma da noite, espectro torvo, qual é o teu nome, ó nobre Corvo, o nome teu no inferno torvo!" E o Corvo disse: "Nunca mais".
Maravilhou-me que falasse uma ave rude dessa classe,misteriosa esfinge negra, a retorquir-me em termos tais;pois nunca soube de vivente algum, outrora ou no presente,que igual surpresa experimente: a de encontrar, em sua porta,uma ave (ou fera, pouco importa), empoleirada em sua porta e que se chame "Nunca mais".
Diversa coisa não dizia, ali pousada, a ave sombria,com a alma inteira a se espelhar naquelas sílabas fatais.Murmuro, então, vendo-a serena e sem mover uma só pena,enquanto a mágoa me envenena: "Amigos... sempre vão-se embora.Como a esperança, ao vir a aurora, ELE também há de ir-se embora". E disse o Corvo: "Nunca mais".

Vara o silêncio, com tal nexo, essa resposta que, perplexo,julgo: "É só isso o que ele diz; duas palavras sempre iguais.Soube-as de um dono a quem tortura uma implacável desventurae a quem, repleto de amargura, apenas resta um ritornelode seu cantar; do morto anelo, um epitáfio: - o ritornelo de "Nunca, nunca, nunca mais".

Como ainda o Corvo me mudasse em um sorriso a triste face,girei então numa poltrona, em frente ao busto, à ave, aos umbraise, mergulhando no coxim, pus-me a inquirir (pois, para mim,visava a algum secreto fim) que pretendia o antigo Corvo,com que intenções, horrendo, torvo, esse ominoso e antigo Corvo grasnava sempre: "Nunca mais".

Sentindo da ave, incandescente, o olhar queimar-me fixamente,eu me abismava, absorto e mudo, em deduções conjeturais.Cismava, a fronte reclinada, a descansar, sobre a almofadadessa poltrona aveludada em que a luz cai suavemente, dessa poltrona em que ELA, ausente, à luz que cai suavemente, já não repousa, ah!, nunca mais...

O ar pareceu-me então mais denso e perfumado, qual se incensoali descessem a esparzir turibulários celestiais."Mísero!, exclamo. Enfim teu Deus te dá, mandando os anjos seus,esquecimento, lá dos céus, para as saudades de Lenora.Sorve o nepentes. Sorve-o, agora! Esquece, olvida essa Lenora!" E o Corvo disse: "Nunca mais."



"Profeta! - brado. - Ó ser do mal! Profeta sempre, ave infernalque o Tentador lançou do abismo, ou que arrojaram temporais,de algum naufrágio, a esta maldita e estéril terra, a esta precitamansão de horror, que o horror habita, imploro, dize-mo, em verdade:EXISTE um bálsamo em Galaad? Imploro! Dize-mo, em verdade!" E o Corvo disse: "Nunca mais".



"Profeta! exclamo. Ó ser do mal! Profeta sempre, ave infernal!Pelo alto céu, por esse Deus que adoram todos os mortaisfala se esta alma sob o guante atroz da dor, no Éden distante,verá a deusa fulgurante a quem nos céus chamam Lenora,essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora!" E o corvo disse: "Nunca mais".


"Profeta!"

"Seja isso a nossa despedida! - ergo-me e grito, alma incendida. -Volta de novo à tempestade, aos negros antros infernais!Nem leve pluma de ti reste aqui, que tal mentira ateste!Deixe- me só neste ermo agreste! Alça teu vôo dessa porta!Retira a garra que me corta o peito e vai-te dessa porta!" E o Corvo disse: "Nunca mais!"


"no Éden distante,verá a deusa fulgurante a quem nos céus chamam Lenora"

"Profeta sempre, ave infernal!"

"Seja isso a nossa despedida! "


E lá ficou! Hirto, sombrio, ainda hoje o vejo, horas a fio,sobre o alvo busto de Minerva, inerte, sempre em meus umbrais.No seu olhar medonho e enorme o anjo do mal, em sonhos, dorme,e a luz da lâmpada, disforme, atira ao chão a sua sombra.Nela, que ondula sobre a alfombra, está minha alma; e, presa à sombra, não há de erguer-se, ai!, nunca mais!


"E lá ficou!"


"O ENIGMA DA ESFINGE"



Ilustrações de Gustave Doré; tradução de Milton Amado - 1943 que pode ser lida em "O CORVO" e suas traduções, 2ª edição. Organização de Ivo Barroso. Ed. Lacerda (© 2000, by Editora Nova Aguilar S.A.), Adaptação de Estudante. Boa leitura!

O guerreiro da luz às vezes luta com quem ama.
Aprendeu que o silêncio significa o equilíbrio absoluto do corpo, do espírito, e da alma. O homem que preserva a sua unidade, jamais é dominado pelas tempestades da existência; tem forças para ultrapassar as dificuldades e seguir adiante.
Entretanto, muitas vezes sente-se desafiado por aqueles a quem procura ensinar a arte da espada. Seus discípulos o provocam para um combate.
E o guerreiro mostra sua capacidade: com alguns golpes, lança as armas dos alunos por terra, e a harmonia volta ao local onde se reúnem.
"Por que fazer isto, se és tão superior?", pergunta um viajante.
"Porque, desta maneira, mantenho o diálogo", responde o guerreiro.
O Manual de Guerreiro da Luz - Paulo Coelho

1 comment:

Anonymous said...

Nunca mais...
É realmente bonito ver como ele é apaixonado (algo quase meio doentio, mas enfim bonito)
Gosto de ver como ele foi inconformado... como ele ainda a buscava apesar das impossibilidades...

Difícil achar seu blog hein... me custou quase meio dia de trabalho e ele estava aqui... bem na minha frente!
(tudo isso pq já havia um comentário seu lá...)